VIDA DE APOSENTADO
A vida começa aos 40... não, aos 60... aos 70...
O que vou fazer depois que me aposentar? Esta é uma pergunta que quase todos se fazem quando se aproxima a hora da aposentadoria. Pergunta difícil de responder, afinal, “o futuro a Deus pertence”, não é mesmo? Mas, que tal dar uma “mãozinha” para que o futuro seja o mais promissor possível?
“A vida começa aos 40” – passamos a vida inteira ouvindo isso. Começa aos 40 com uma crise existencial e tanto! Já passamos pela crise dos 30. Agora, vem a dos 40. Depois, quem sabe, a dos 50. Contudo, aos 60, não há crise que se sustente. Aos 60, a vida começa de verdade. E quando vem a aposentadoria, uma nova vida começa a se descortinar diante dos nossos olhos. E, com ela, a pergunta terrível: “O que vou fazer agora? Pôr o pijama, ficar vendo TV, lendo os jornais do dia? Coisas desse tipo? Não, com certeza, não. Esse seria o caminho mais curto para um final infeliz, via depressão.
Na verdade, aos 60, estamos mais do que prontos para começar novas atividades, porque trazemos dentro de nós uma bagagem cultural acumulada com experiências fantásticas da vida, que nos levarão ao sucesso muito mais rapidamente do que jamais teríamos imaginado antes.
Eu me aposentei aos 50 (49, na verdade, graças a uma licença-prêmio não gozada, contada em dobro para a aposentadoria; um “vagabundo”, no dizer do ex-Presidente FHC), em circunstância especialíssima dentro do contexto político que vivia o País naquele momento: Collor assumiu o poder prometendo drásticas alterações no campo da Previdência Privada, o que acelerou os pedidos de aposentadoria de quem já tivesse cumprido o tempo para obter o benefício – meu, inclusive. No entanto, eu me sentia francamente disposto ao trabalho. Para quem começara a lida diária aos onze anos de idade, a aposentadoria era quase um castigo.
Solicitado que fui para contribuir com minha mão de obra na instalação da Câmara Distrital no DF, na minha área de atuação – revisor de textos parlamentares – para ajudar no setor da Taquigrafia, decidi continuar trabalhando por mais sete anos, até que os concursados chegassem e assumissem seus postos. Aí, sim, mais três, quatro anos, eu estaria chegando aos 60 e por isso tinha de me preparar para a aposentadoria, para a vida de aposentado, uma nova vida que estava por vir. E começava a me atormentar a pergunta inicial do que fazer.
Posta a questão na mesa, comecei por transferir minha residência para outra região do País que sequer conhecia: o Sul. Sou santista de nascimento, mas, convidado pela minha amiga Carmem Sílvia para conhecer Florianópolis, conheci, amei e ali me instalei para não mais sair. Linda Floripa que me acolheu com sua beleza natural, tão linda e maravilhosa quanto Brasília, que outrora me recebera de braços abertos, proporcionando-me os melhores anos de minha vida pessoal e profissional.
Em Florianópolis, cheguei. Após seis meses de passeios para conhecer a bela Ilha de Santa Catarina, decidi voltar às atividades laborais: fui trabalhar como corretor de imóveis (eu possuía o registro no CRECI), mas isso não durou mais do que dois meses. Não deu certo e não cabe aqui discutir os motivos. Simplesmente não deu certo. Voltei a advogar, mas fui desestimulado de pronto diante da lentidão da Justiça catarinense (como de resto, do País).
Finalmente, aos 60 anos, eu estava preparado para começar a nova vida: a vida de aposentado! Não mais empregos com horários fixos, não mais responsabilidades profissionais, uma vida mansa, cheia de tempo para tudo... Que nada, quando trabalhávamos, tínhamos tempo para tudo; aposentado, o tempo escoa pelos dedos e as tarefas a que nos propomos vão ficando para trás. Surge, então, a necessidade de aprender a lidar com o tempo, essa escassa matéria-prima natural. E quando aprendemos a administrar o tempo, voilà, que maravilha. Um curso de pós-graduação em Ciências Criminais; uma loja de produtos artesanais que me obrigava a aprender artesanato para me entrosar com o ramo, entre idas e vindas a Porto Alegre para visitar novos amigos.
Enfim, aos 67, novo curso de graduação na Faculdade de Tecnologia em Fotografia; aos 69, recebia o diploma junto com a gurizada, por todos respeitado e levado na conta do colega de turma mais experiente.
Aos 70, uma viagem de sessenta dias partindo de Floripa, estabelecendo Brasília como ponto de parada para respirar, descansar e continuar uma andança entre Bahia, Goiás, São Paulo... fazendo muitas fotos, correndo atrás de cachoeiras, de monumentos, de igrejas e prédios centenários, de museus e exposições...
Aos 71, a primeira viagem internacional realizando o sonho de conhecer a Itália, minha paixão desde a adolescência. Quase três meses, dos quais um e tanto na Itália, e estava eu de volta, mais feliz do que nunca.
Uma vida superagitada, por assim dizer, que provavelmente alguém com menos idade iria considerar “fora dos padrões”.